Brasil celebra 10 anos de título mundial de handebol e busca retomar sucesso
Quarta-Feira, 20 de Dezembro de 2023

Morten Soubak chegou calado a um dos vestiários da Kombank Arena, em Belgrado, há dez anos, onde seria realizada a final do Mundial feminino de handebol. Treinador da seleção brasileira, o dinamarquês carregava uma volumosa sacola, da qual retirou 16 medalhas prateadas, distribuindo-as entre as atletas: "Satisfeitas?".
Era uma referência ao favoritismo da anfitriã Servia naquela decisão, em 22 de dezembro de 2013. A imprensa internacional apontava essa vantagem das donas da casa, e o histórico corroborava a visão. Só uma equipe não europeia — a Coreia do Sul, em 1995 — havia vencido a competição, realizada desde 1957.
"Vocês não têm coragem de pegar este ouro", prosseguiu Soubek, exibindo medalha de outra cor. "Estão com medo, e as adversárias sabem disso", provocou.
Duda Amorim, que seria eleita a melhor jogadora do torneio, investiu contra o treinador, para tomar dele o símbolo da vitória. Suas companheiras a seguiram. Risos e gritos de incentivo tomaram o ambiente.
Algumas horas depois, o placar apontava 22 a 20 para o time tido como azarão, e o hino nacional brasileiro calava os mais de 19 mil sérvios presentes.
O Brasil celebra nesta semana uma década da marcante conquista, que teve auxílio austríaco. Reconhecendo a deficiência de sua liga, a CBHb (Confederação Brasileira de Handebol) firmou em 2010 convênio com o Hypo Niederösterreich, tradicional clube feminino da Áustria, e lhe enviou seus principais talentos.
Grandes nomes do país já faziam sucesso na equipe, caso da ponta Alexandra Nascimento, considerada uma das melhores jogadoras da última década. "Essa estratégia de internacionalizar nossas atletas foi fundamental para o sucesso daquela geração", avalia o atual presidente da confederação, Felipe Rego Barros.
Morten Soubak também chegou à seleção naquele período, após vitoriosos anos no Esporte Clube Pinheiros.
Os resultados começaram a aparecer em 2011, quando o Mundial foi realizado em São Paulo. O time verde-amarelo passeou em seu grupo, com vitórias sobre Cuba, Tunísia, Japão e as tradicionais França e Romênia. Na sequência, nas oitavas de final, tranquilo triunfo sobre a Costa do Marfim.
Classificada de maneira inédita às quartas, a equipe teve duelo épico com a Espanha, adversário conhecido e de estilo de jogo similar ao brasileiro: defesa agressiva e extrema velocidade no ataque. Foi uma batalha de duas prorrogações no ginásio do Ibirapuera, com vitória da formação europeia por 27 a 26.
"Foi muito frustrante", diz a armadora Ana Paula Belo, 36, uma das últimas remanescentes da geração campeã do mundo na atual seleção. "Depois de vencer equipes fortíssimas na primeira fase, estávamos confiantes que ficaríamos entre as quatro em casa."
Ainda que inédito, o quinto lugar teve gosto amargo, sentido novamente nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. O Brasil abriu seis gols de vantagem no primeiro tempo do confronto com a Noruega, na capital inglesa, e voltou a cair nas quartas.
"Depois de um ano e alguns meses, chegamos ao Mundial da Sérvia com um lema: 'Não podemos errar novamente'. Sabíamos que seria a nossa vez, e os resultados foram nos deixando mais confiantes", recorda Ana Paula.
A primeira fase foi perfeita, com vitórias sobre Argélia, China, Japão, Dinamarca e a própria anfitriã Sérvia. Nas oitavas, a vítima foi a Holanda. Chegavam então as temidas quartas. A Hungria, campeã em 1965 e dona de uma das ligas nacionais mais aclamadas da Europa, era a adversária.
Partida dramática. Duas prorrogações. Viradas. Brigas. Placar final: 33 a 31 para o Brasil, que finalmente conquistava lugar entre os quatro melhores do mundo. O time seguiu no embalo, e a finalíssima foi alcançada por meio de uma exibição primorosa em reencontro com as dinamarquesas.
Fonte: O tempo