Armas para facções: PF prende 19 e apreende joias e 2.325 pistolas e fuzis
Terça-Feira, 05 de Dezembro de 2023

A megaoperação desencadeada pela Polícia Federal na manhã desta terça-feira (5) em parceria com forças do Paraguai resultou na apreensão de ao menos 2.325 armas, entre fuzis e pistolas. Também foi apreendida grande quantidade de dinheiro, dezenas de canetas e relógios de luxo, jóias e veículos, além de equipamentos para raspagem do número das armas de fogo, essenciais no esquema criminoso de tráfico internacional, o mais já desvendado pelas autoridades brasileiras. Houve ainda um bloqueio de R$ 66 milhões em bens, direitos e valores no Brasil.
A ação visa desmantelar um grupo que forneceu 43 mil armas aos chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), maiores facções criminosas brasileiras. A negociação do arsenal movimentou cerca de R$ 1,2 bilhão. “Até o momento, temos 38 mandados cumpridos, sendo 19 de prisão, 21 difusões vermelhas na Interpol, além do bloqueio de R$ 66 milhões em bens, direitos e valores no Brasil”, disse o ministro da Justiça, Flávio Dino, em entrevista coletiva realizada no fim da manhã, ao lado de autoridades paraguaias. Até então, não se sabia do total apreendido em dinheiro por causa do grande volume.
Das 19 prisões, cinco ocorreram no Brasil e 14 no Paraguai. Um dos presos no país vizinho é o ex-comandante da Aeronáutica Arturo González. A polícia paraguaia apreendeu na mansão do general cerca de 300 milhões em espécie, na moeda guarani, do Paraguai, e mais 700 milhões em cheque, o que representa cerca de R$ 670 mil.
González é um dos principais alvos da megaoperação desencadeada pela PF na manhã desta terça-feira. Ele é apontado como o elo entre os contrabandistas de armas e funcionários corruptos do Direccion de Material Belico (Dimabel), órgão militar paraguaio responsável por controlar, fiscalizar e liberar o uso de armas.
Maior contrabandista de armas do continente conseguiu fugir
O líder do bando, segundo a investigação, é o argentino Diego Hernan Dirísio, que mora em Assunção, no Paraguai. Apontado como maior contrabandista de armas da América do Sul, ele conseguiu fugir. A PF suspeita de vazamento da operação por meio de agentes de segurança paraguaios. Agentes apreenderam dezenas de armas na residência e na empresa dele, além de notas de dólares.
A empresa de Diego Dirísio, sediada em Assunção, foi responsável pela importação de milhares de pistolas, fuzis e munições de vários fabricantes europeus sediados na Croácia, Turquia, República Tcheca e Eslovênia, segundo a PF. No Paraguai eram raspadas e revendidas a grupos de intermediários que atuavam na fronteira do Brasil, para serem revendidas ao CV e PCC.
De novembro de 2019 a maio de 2022, a empresa de Dirísio importou 7.720 pistolas de uma fabricante na Croácia, bem como a compra e venda de 2.056 fuzis produzidos na República Tcheca e mais 5 mil rifles, pistolas e revólveres produzidos na Turquia. Outras 1.200 pistolas foram importadas de uma fábrica na Eslovênia — um total de 16.669 armas. Todo esse arsenal foi vendido para facções brasileiras, principalmente o CV e o PCC.
Operação é resultado de apreensão de armas na Bahia
A Justiça da Bahia, que conduz a operação, determinou que os alvos de prisão que estiverem no exterior sejam incluídos na lista vermelha da Interpol e que, se forem presos, sejam extraditados para o Brasil.
A operação desta terça-feira é resultado da apreensão de pistolas e munições em 2022, no interior da Bahia. As armas estavam com o número de série raspado, mas, por meio de perícia, a PF conseguiu obter as informações e avançar na investigação.
Desde então, foram feitas 67 apreensões que totalizam 659 armas apreendidas em 10 Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Ceará.
Com base nessas ações, os investigadores chegaram à empresa do Paraguai e seu dono. A PF conta com cooperação da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai com o Ministério Público do Paraguai.
Fonte: O tempo